SOL
Divindade envolta num profundo mistério relacionado com os fenómenos vitais.
Símbolo da libertação da opressão invernal que submerge, os países setentrionais e circumpolares, num longo e escuro período de esterilidade. É o pêndulo do relógio que marca as horas do princípio e do fim das estações do ano.
No seu curso crescente, iniciado logo após a noite mais longa do Solstício de Inverno, o Sol vai abrindo brechas na penumbra até à sua consagração no Solstício de Verão. Vários povos representam esta viagem, de vida, morte e renascimento, em expressivas espirais solares crescendo a partir do estado de recolhimento, expandindo no zénite estival e inflectindo, ao ponto original, imitando o minguar do Sol com a aproximação do inverno.
Os ciclos naturais, celebrados desde tempos imemoriais, expressam uma matemática simbólica ao assinalarem a alternância das núpcias cósmicas entre a bênção do céu e a generosidade da terra.
O Calor do Sol assemelha-se ao Calor Ígneo: ambos inacessíveis e incomportáveis, ambos imprescindíveis à sobrevivência. O fogo purifica e transforma. O Sol injecta nos solos o pulsar criador.
LITHA
Solstício de Verão:
Regresso do esplendor aos céus e da vida ao ventre da Mãe-Terra.
Hoje, 21 de Junho de 2011, às 17h16min, o Sol entrou em Caranguejo, signo regido pela Lua e pelo elemento água, associado à sensibilidade, à família e à emoção. Hoje, no Hemisfério Norte, celebra-se o início do Verão.
Festa SOLAR
Celebração elementar do FOGO.
O Deus Sol no auge...
As flores, as árvores, o verde em todo o esplendor...
Cernunos, o Deus Cornudo, em toda a plenitude, maduro e feliz.
A Deusa, fecundada no Beltane (01 de Maio) está grávida e assume os atributos de Deusa Mãe.
No dia mais longo do ano a luz prevalece sobre a escuridão garantindo poder e protecção. Celebra-se a abundância. Celebra-se a Vida
Outras denominações existem para este festival:
· “CoamHain - Midsummer” (“meio do verão” iniciado a 1 de Maio com as festividades do Beltane)
· “Alban Heffin” (designação druídica) “Luz da Costa” ou “Luz do Verão”, fazendo alusão ao triunfo da luz sobre as trevas.
Sob o efeito excitante do Verão, a alegria apodera-se das gentes. As consciências descontraem-se, num estado de alucinação sensorial e sensual.
É no estio que os dias adquirem especial poder, descrito por Rudolph Steiner como o “phosphoro alquímico, invisível da atmosfera”, através do qual “entidades oriundas dos mundos estelares entram no nosso organismo etéreo, tornando-o permeável a forças cósmicas necessárias à celebração da metamorfose da alma”.
Todavia é também hoje que o pico de luz entra em declínio culminando no Samhain, Halloween ou Alban Arthan recordando ao homem o quão transitória é a existência.
Lendas, rituais, sítios e tradições seculares associam-se ao Solstício de Verão, testemunhando a sua relevância cerimonial:
· Monumentos megalíticos alinhados, nos solstícios, com o nascer e o pôr do Sol...
· Colheita, partilha e secagem de ervas medicinais e aromáticas que, pela conjuntura astral, estão agora nutridas do máximo poder curativo, alquímico e mágico do SOL...
· Banhos purificadores e curas milagrosas ocorridas em rios, fontes e cascatas...
· É nesta noite a seiva das árvores está vivaz. Escolhem-se os ramos para as varas de condão, usadas pelos celtas em círculos cerimoniais e rituais de cura enquanto canalizadores de energia.
· O sonhado, desejado ou pedido na noite de Litha realizar-se-á...
· Esta noite que Puck, Pan, Elfos, Fadas, Duendes e Gnomos correm pelos campos e florestas sendo facilmente avistados e contactados...
· Os Druidas veneram Ogham – Duir, o Carvalho. Árvore nobre, símbolo de força, sabedoria e iluminação, pelo crescimento lento, como lenta é a maturação do espirito. A elevada densidade da sua madeira corresponde à solidez espiritual adquirida ao longo do caminho. O Carvalho está também associado à iluminação devido ao especial tropismo dos relâmpagos por esta árvore.
· Rituais de Fogo e Água remontam a ancestrais tradições pagãs, egípcias, gregas, celtas e bárbaras: Rituais de fogo representando o poder fecundador encarnado no Deus Cornudo; Rituais de água representando a fertilidade de Deusa e simbolizados pelo caldeirão de Ceridwen.
Ânima Lusa:
Encontramos hoje os ecos cristianizados de antigas tradições pagãs nas celebrações do advento do verão, do Solstício e nas que decorrem ao longo de todo o estio.
Alguns autores afirmam que a tradição dos ritos solares foi trazida para a Península Ibérica pelos árabes (acender fogueiras ainda é uma prática comum em Marrocos e na Argélia). Todavia, nas nossas festas e romarias é, também, evidente a influência celta, visigótica e xamânica.
Hoje, em Portugal, inicia-se um ciclo de dias longos e noites curtas, plenas de eflorescência azulada mimetizando uma extensão dos dias. Estas noites luminosas são realçadas pelas fogueiras e os balões iluminados das festas populares que por estas paragens honram Santo António, São João Baptista e São Pedro, numa espécie de celebração da tríplice, solar e masculina.
Em Junho e Julho, abarcando todo o período do signo de Caranguejo, Portugal está cheio de festividades que pontuam pela cor, luz, alegria e sedução amorosa.
Manjerico, alecrim, funcho, tomilho, verbena, alho-porro, camomila, girassol... Ervas aromáticas, curativas, mágicas, alusivas ao Sol, ervas que nos inspiram e embriagam o espírito
Igrejas, altares, janelas, ruas e gentes vestem-se de branco, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho.
O fogo é vivificado, numa reverência dionisíaca ao FOGO SOLAR iluminando o céu e a terra:
Pelas fogueiras que, se saltam para espantar o infortúnio e a negatividade, feitas na rua e à porta de casa, purificam e abençoam quem à sua volta dança e histórias conta;
Pelos balões coloridos e iluminados que, pendurados em arcos ou lançados ao céu, simbolizam estrelas cadentes na escuridão nocturna.
Estes são ritos propiciatórios do Fogo, que até ao Equinócio de Outono, ganha força sob a forma de calor, compensando o progressivo declínio da luz
Mas a Tradição Mágica Lusitana não se fica pelo FOGO e o Masculino, reverencia também a ÁGUA e o Feminino:
Água da meia-noite, a “água nova” renovadora e mágica e a Água da Alvorada. E por isso se dança até ao romper da aurora, para que o Orvalho nos banhe e assim celebremos um novo ciclo anual.
A sardinha, prateada e vivaz, simboliza as águas correntes e a Lua. Abundantemente consumida nas festas de verão equilibra o Sol, a ele se une e fortifica o Homem balanceando a dualidade sexual. E... é esta união cósmica e ritual do Sol e da Lua que inspira a tradição casamenteira da quadra.
O casamento romântico dos enamorados e o casamento com Fadas ou Mouras Encantadas simbolizando o tradicional ritual de passagem.
Mouras Encantadas que protagonizam inúmeras lendas do cancioneiro popular Análogas de Artemisa, de Östara, Deusa Regeneradora dos Visigodos, e da Serpente Guardiã da lenda nórdica de Thora.
Durante o resto do ano as Mouras Encantadas estão adormecidas ou transformadas em serpentes. No Equinócio da Primavera e no Solstício de Verão aparecem em penedos remotos, bosques densos, fontes e ribeiras, como belas donzelas, virgens de longos cabelos dourados e de branco vestidas.
Possuindo dons curativos e poderes mágicos que apaziguam as almas, fazem nascentes brotar e ouro gerar, as “Senhoras Brancas”, vão propondo casamento aos passantes e premeiam, com felicidade e prosperidade, o corajoso jovem que se aventure as desposá-las libertando-as do encantamento. Esta valência feminina, mágica e sagrada na tradição nacional é tão importante que, esta quadra solsticial, inaugura uma série de festividades alusivas a “Nossa Senhora”, que se prolongam por todo verão e se celebram em santuários arborizados e luxuriantes, localizados frequentemente em montes e sítios ermos, de difícil acesso.
Portugal transporta um passado ancestral e mítico de união com a Natureza sendo disso testemunha o nosso folclore que remanesce como um reservatório de cultos e tradições que, embora esmaecidos por imposições dogmáticas, vão permanecendo nas romarias e festas sazonais.
EPÍLOGO
Aos Solstícios não ficam alheias as nossas consciências colectiva e individual.
São ancestrais os festivais solares, enquanto representações da fusão dos Espíritos Superior do Sol, do Deus Cornudo e do Homem. Já os gregos chamavam “Apolo de Chifres” ao “Espírito Invisível do Sol” espelhando aquela interpenetração.
Reflectindo os ciclos sazonais, de fertilidade e esterilidade, e estimulando as forças sobrenaturais da personalidade, a Celebração Solar desperta a nossa consciência atávica pois não só objectiva a sintonia com a Natureza, mas também a Experiência Mística que profetiza, na metamorfose da Terra, a potencialidade para a transformação do Homem
“Onde o Deus e a Deusa se Unem
Em Perpétuo Amor e Fecundidade
Nasce a Fertilidade e a Sabedoria”