A ignorância é a falta de conhecimento, sabedoria e instrução sobre determinado tema, ou mesmo crença em falsidades, ou ainda de uma forma menos pratica pode significar uma forma rude de tratar as pessoas e/ou coisas.
Na história da humanidade, a ignorância, seja a ingénua, seja a mal intencionada, tem sido responsável por muitas tragédias… das epidemias às guerras
A ignorância, não permanece estável, evolui. Nasce como pura falta de conhecimentos, mas transforma-se em incapacidade e por fim em recusa absoluta de adquiri-los, mesmo quando disso dependa a sobrevivência do interessado. Começa como um estado natural, e transforma-se numa requintada forma de perversidade.
Em psicologia social, ignorância pluralística, conceito criado em 1924 por Floyd Henry Allport, é um processo que envolve vários membros de um grupo que pensam possuir percepções, crenças, ou atitudes diferentes do restante do grupo.
Apesar de não apoiarem a norma do grupo, os dissidentes comportam-se como os outros membros, porque pensam que o comportamento dos outros componentes demonstra que a opinião do grupo é unânime.
Por outras palavras, visto que aqueles que discordam se comportam como se concordassem, cada um dos dissidentes imagina que a norma é aprovada por todos os outros membros, menos por ele mesmo. Isto, por sua vez, reforça o desejo de conformar-se à norma do grupo em vez de expressar discordância. Por conta da ignorância pluralística, as pessoas podem conformar-se com a opinião consensual percebida num grupo, em vez de pensar e agir sob as suas próprias perspectivas.
A ignorância pluralística explica parcialmente o "efeito espectador", a observação de que é muito mais provável que as pessoas intervenham numa emergência quando estão sozinhas do que quando outras pessoas estão presentes.
A ignorância é cega, não é capaz de ver a verdade, a liberdade, a construção de um novo mundo. A ignorância é prepotente, mas termina por ser transformada, pois só o conhecimento e o amor são capazes de transformar ignorância em sabedoria, e a sabedoria é luz.
A ignorância – ou, a consciência da nossa própria ignorância - não nos é dada gratuitamente, a ignorância tem um preço. Não a ganhamos, conquistamo-la. Como tudo o que tem algum valor na vida, também a obtenção da ignorância exige esforço, paciência e dedicação. Pois ocorre que nos é muito mais natural acreditar do que duvidar. A nossa tendência é acreditar que as coisas de facto sejam como elas de início nos parecem ser. A dúvida acerca dessa primeira aparência pode surgir de diversos modos, e um desses modos é o modo filosófico.
O exercício da dúvida, é o instrumento indispensável que nos permite eliminar os fragmentos do pseudo – conhecimento, reunidos ao longo dos anos que enchem a nossa mente. É o exercício da dúvida que nos permite alcançar a ignorância.
Parte considerável dos esforços dos filósofos, é dedicada à tarefa de obter essa autêntica ignorância. Pois a fonte do pseudo - conhecimento é a pseudo -ignorância.
A pseudo - ignorância é o resultado da tentativa insuficiente e fracassada em eliminar as crenças irracionais que se acumulam no nosso espírito. Diante desse fracasso, continuamos a sustentar ideias infundadas, e a guiar as nossas acções com base em pontos de vista que, ao fim e ao cabo, não têm sustentação racional. E tudo isto porque desde o início falhamos na tarefa de desmascarar a nossa própria ignorância.
Só aquele que tem consciência da sua própria ignorância procura o saber. Aquele que julga que tudo conhece, contenta-se com o saber que possui. Os sofistas que tudo afirmam saber, são os mais ignorantes de todos, dado que desconhecem a sua própria ignorância.
Esta ignorância não é absoluta mas é sim uma douta ignorância (ignorância sábia).
A douta ignorância, não é mais do que a consciencialização do pouco que se sabe face à imensidão do saber. Ela é uma ignorância construtiva porque tem por objectivo atingir a verdade e porque não parte nunca da estaca zero. Assim, estamos perante um movimento dialéctico.
Aristóteles, diz-nos que a Filosofia começa com o espanto, com o reconhecimento da ignorância. De facto, quem reconhece a sua ignorância, não admite ficar nessa condição, uma vez que a ignorância é, no fundo, a incapacidade de dar sentido à vida e ao universo.
Quando reconhecemos a nossa ignorância e tomamos a decisão de procurar a verdade, e nada mais do que a verdade, a inveja, o medo e a culpa esfumam-se e deixam na nossa mente uma confiança renovada na nossa capacidade de resolver os problemas que a vida nos colocar.
Segundo Platão, ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que não a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância mantém-se em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis, de modo que não temos nenhum motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber.
Segundo Socrates, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, cepticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber. Ficou célebre a sua afirmação: "Só sei que nada sei".
A procura do saber é indissociável também do conhecimento de nós mesmos. Daí o facto de Sócrates ter tomado como seu lema, a divisa do templo de Delfos: Conhece-te a Ti Próprio. Contra um conhecimento revelado a partir do exterior, Sócrates, aponta para um que se revela a partir da auto-descoberta do próprio indivíduo.
Na voz de Sócrates, os homens vivem desde a infância num estado de ignorância, como se estivessem no interior de uma caverna, acorrentados, "de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois, as correntes impede-os de voltar a cabeça".
É a ignorância profunda que inspira o tom dogmático. Aquele que nada sabe pensa ensinar aos outros o que acaba de aprender; aquele que sabe muito mal chega a pensar que o que diz possa ser ignorado, e fala com maior indiferença. As maiores coisas só precisam de ser ditas de forma simples, elas estragam-se com a ênfase, é preciso dizer nobremente as pequenas, elas só se sustentam pela expressão, pelo tom e pela maneira.
É a partir da ignorância que avançamos para o conhecimento, temos que descobrir primeiro a natureza secreta e a extensão total da ignorância. Se observarmos essa ignorância na qual normalmente vivemos pela própria circunstância da nossa existência de ruptura num universo material, espacial e temporal, vemos que no seu aspecto mais obscuro ela possui, o carácter de uma ignorância multiforme:
A ignorância original - Somos ignorantes do Absoluto que é a origem de todo ser e de toda a mudança. Consideramos os factos parciais do ser, e as relações temporais da mudança como a verdade total da existência;
A ignorância cósmica – Somos ignorantes do Eu não espacial, intemporal, imóvel e imutável. Vemos a constante mobilidade e mutação da mudança cósmica no tempo e no espaço, como a verdade completa da existência;
A ignorância egoística – Somos ignorantes do nosso Eu universal, da existência cósmica, da consciência cósmica, da nossa unidade infinita com todo ser e toda a mudança. Consideramos a nossa mentalidade, vitalidade e corporalidade, limitadas e egoísticas, como o nosso Eu verdadeiro;
A ignorância temporal – Somos ignorantes da nossa eterna mudança no tempo. Consideramos esta pequena vida num breve espaço de tempo, num ínfimo campo do espaço, como nosso princípio, meio e fim;
A ignorância psicológica – Somos ignorantes do nosso vasto e complexo ser, daquilo em nós que é supra consciente, subconsciente, intraconsciente, circunconsciente em relação à nossa mudança de superfície. Consideramos essa mudança superficial, com a sua pequena selecção de experiências abertamente mentalizadas, como a totalidade da nossa;
A ignorância constitucional – Somos ignorantes da verdadeira constituição da nossa mudança. Consideramos a mente, ou a vida ou o corpo ou uma combinação de dois deles ou dos três, como o nosso verdadeiro princípio ou a explicação completa do que somos, perdendo de vista aquilo que os constitui e determina por sua presença oculta;
A ignorância prática – Como resultado de todas estas ignorâncias, nós perdemos o verdadeiro conhecimento, domínio e gozo da nossa vida no mundo. Somos ignorantes no nosso pensamento, vontade, sensações e acções, damos respostas erradas ou imperfeitas a cada passo, e em cada aspecto às questões do mundo, vagamos num labirinto de erros e desejos, lutas e fracassos, dor e prazer, pecados e tropeços, seguimos um tortuoso caminho, andamos às cegas em busca de um objectivo mutável.
A concepção da ignorância, determinará necessariamente a concepção do conhecimento e determinará, portanto, uma vez que a nossa vida é a ignorância que ao mesmo tempo nega e busca o conhecimento, a meta do esforço humano e o propósito do trabalho cósmico.
Segundo alguns autores - neste caso desconhecido - o mal da ignorância é que vai adquirindo confiança à medida que se prolonga, e muitos homens passam por sábios, graças à ignorância dos outros
Enfim, o valor da ignorância é extraordinário. Defrontar a autêntica ignorância, único terreno sobre o qual o autêntico conhecimento pode ser construído, é um empreendimento indispensável e virtualmente interminável. O mundo oferece-nos constantemente ideias enganosas das quais precisamos depurar-nos e essa depuração não é um trabalho do qual possamos dar conta sem esforço e método. Ter constantemente presente a necessidade deste trabalho e lembrar aos demais disto, com uma persistência que beire a provocação – como o fazia o próprio Sócrates – pode ser uma boa maneira de se começar a deixar de ser ignorante.
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